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Intervenções Baseadas em Dança na Saúde Mental e Cognitiva

Dança e Saúde Mental


A compreensão contemporânea da saúde mental vai muito além da ausência de doença: trata-se de um estado dinâmico de bem-estar em que o indivíduo reconhece suas habilidades, lida com os estresses cotidianos, atua de forma produtiva e contribui com a sociedade. Nesse contexto ampliado, abordagens terapêuticas que integram aspectos físicos, emocionais, cognitivos e sociais tornam-se altamente relevantes. As intervenções baseadas em dança e a Terapia de Dança/Movimento (Dance Movement Therapy - DMT) surgem como ferramentas promissoras para esse cuidado integral.


Dança e Saúde

Dança e Trauma Psicológico

Estudos indicam que a terapia de dança pode melhorar a saúde mental e física de pessoas com histórico de trauma psicológico, ativando processos fisiológicos como coordenação motora, expressão emocional e regulação do estresse. Além disso, mobiliza funções cognitivas (atenção, memória, visualização espacial), criativas e emocionais através da improvisação e da interação social.

A DMT é especialmente eficaz em contextos em que os indivíduos têm dificuldades com terapias baseadas em linguagem. Ela favorece a consciência corporal, a conexão mente-corpo e o relaxamento através do movimento. Estudos qualitativos relatam melhorias significativas em autoexpressão, expressão verbal e construção de limites relacionais e corporais, principalmente quando mediadas por grupos seguros e terapeutas qualificados.

No entanto, apesar de resultados promissores, ainda são escassos os dados que apontam redução direta dos sintomas clássicos do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Estudos sugerem que a terapia de dança atua mais como uma intervenção de suporte do que como tratamento direto desses sintomas.


Benefícios Gerais para a Saúde Mental


Vários estilos de dança foram investigados (jazz, tango, dança moderna, danças folclóricas, entre outros), e demonstraram efeitos positivos sobre ansiedade, depressão, autoestima e qualidade de vida. Avaliações com instrumentos como o Beck Depression Inventory (BDI), GAD-7, CESD-R e Rosenberg Self-Esteem Scale mostraram melhoras significativas após a participação em programas regulares de dança.

Uma meta-análise recente demonstrou que a dança promove estados de fluxo que impactam positivamente a regulação emocional, agência pessoal e percepção de dor crônica. Intervenções com DMT também favorecem o senso de integração corpo-mente e a expressão autêutentica das emoções.


Dança e Função Cognitiva


A dança também é associada a melhorias cognitivas, especialmente entre adultos mais velhos. Estudos utilizando ferramentas como o Mini-Exame do Estado Mental (MEEM), o Teste de Memória de Figuras e a Fluência Verbal por Categoria mostram que programas regulares de dança melhoram a memória, a atenção, a orientação espacial e a cognição social. Também se observa impacto positivo no equilíbrio, agilidade e coordenação motora.

Em estudos com populações idosas, a dança demonstrou reduzir o risco de declínio cognitivo, atrofia cerebral e quedas. Além disso, atividades em grupo favorecem a conexão social, elemento essencial para a saúde mental e prevenção da solidão em populações mais velhas.


Desafios Metodológicos e Futuras Pesquisas


A maior parte da literatura atual ainda é composta por estudos descritivos e de autorrelato. Falta padronização de medidas e maior rigor metodológico, com poucos ensaios clínicos randomizados e seguimentos de longo prazo. A heterogeneidade dos estudos também dificulta a realização de meta-análises robustas.

Pesquisadores recomendam o uso de desenhos mistos (quantitativos + qualitativos), uso de medidas psicofisiológicas, relatos de contexto terapêutico e análises mais detalhadas de resultados não esperados. Também é essencial definir com clareza o conceito de saúde mental utilizado nos estudos.


Conclusão


As intervenções baseadas em dança têm mostrado um potencial significativo para apoiar a saúde mental e cognitiva em diferentes contextos. Elas atuam sobre aspectos emocionais, relacionais, cognitivos e físicos, podendo ser adaptadas a diversas populações e necessidades. Apesar das limitações metodológicas atuais, os resultados são encorajadores e apontam para um campo em expansão, que merece mais investigação, investimento e reconhecimento dentro das abordagens de cuidado em saúde integral.

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