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Dançaterapia: História, Ciência e o que Ainda Está em Estudo

A dança sempre foi uma forma de expressão humana. Mas ao longo do século XX, ela passou a ser reconhecida também como um recurso terapêutico poderoso. A Dança Movimento Terapia (DMT), ou dançaterapia, utiliza o corpo e o movimento como caminhos para promover a saúde mental, emocional e física. E embora suas raízes estejam nos rituais de cura de diversas culturas, foi no Ocidente moderno, a partir da década de 1940, que a DMT começou a se estruturar como abordagem terapêutica formal.


Dançaterapia

Das raízes culturais à ciência contemporânea


A dançaterapia surgiu nos Estados Unidos e na Europa como um movimento que unia dança moderna e psicologia. Marian Chace, Mary Whitehouse e Tina Keller-Jenny estão entre as pioneiras que observaram os efeitos da dança sobre pacientes com distúrbios mentais. Já na América Latina, María Fux foi fundamental ao desenvolver uma abordagem própria baseada em sua vivência como bailarina e educadora, criando métodos acessíveis e inclusivos para diversos públicos.

Hoje, a Dançaterapia é reconhecida por associações internacionais, como a American Dance Therapy Association (fundada em 1966), e tem ganhado espaço em centros de saúde, escolas, instituições psiquiátricas e contextos comunitários.


O que a ciência comprova sobre a Dançaterapia:


Diversas pesquisas vêm avaliando os benefícios da dançaterapia em diferentes condições de saúde mental. De forma geral, os estudos apontam:

  • Redução de estresse e ansiedade: Sessões de DMT estão associadas à queda nos níveis de cortisol (hormônio do estresse) e a relatos de maior relaxamento e bem-estar.

  • Melhora da autoestima e da autoimagem: Participantes relatam sentir-se mais confortáveis em seus corpos e mais confiantes em sua expressão pessoal.

  • Regulação emocional: A prática facilita o reconhecimento e a liberação de emoções difíceis, favorecendo o equilíbrio emocional.

  • Conexão social: Em ambientes de grupo, promove empatia, escuta ativa e sensação de pertencimento.

  • Impactos neurológicos: Estudos de neuroimagem mostram que dançar ativa áreas cerebrais ligadas à recompensa, memória, linguagem e coordenação.

Uma revisão sistemática publicada na Frontiers in Psychology (2021) indicou efeitos positivos da DMT em populações com depressão, ansiedade, esquizofrenia, TEPT e Parkinson. Outros estudos publicados em revistas como Arts in Psychotherapy e American Journal of Dance Therapy reforçam que os efeitos não se limitam ao emocional — alcançam também o funcionamento cognitivo e motor.


O que ainda é discutido ou refutado


Apesar dos resultados promissores, há limites. Muitos estudos são qualitativos ou com amostras pequenas. Faltam ensaios clínicos randomizados em larga escala, especialmente com comparações diretas entre a DMT e outras terapias.

Além disso, os efeitos da DMT variam conforme o perfil do paciente, o contexto cultural, a formação do terapeuta e a estrutura do grupo. Por isso, há debates sobre sua padronização e sobre como medir seus efeitos de forma confiável.

Também não se pode afirmar que a dançaterapia substitui tratamentos convencionais, como a psicoterapia verbal ou o uso de medicamentos. Ela funciona melhor como complemento terapêutico.


O que ainda não se sabe


Há questões importantes que seguem em aberto:

  • Qual a frequência ideal para obter benefícios duradouros?

  • Quais são os efeitos em diferentes faixas etárias, especialmente em idosos e crianças com neurodivergência?

  • Como a dançaterapia impacta o cérebro a longo prazo?

  • É possível mensurar objetivamente ganhos em autoestima e regulação emocional?

Essas perguntas orientam novas pesquisas que visam ampliar o reconhecimento da dançaterapia como prática baseada em evidências.


Conclusão


A dançaterapia é uma ponte entre corpo e mente. Embasada em tradição, mas também em ciência, ela oferece um caminho sensível e criativo para o cuidado em saúde mental. Ainda há desafios metodológicos e lacunas no conhecimento, mas o que já se sabe é suficiente para considerar essa prática uma aliada valiosa, especialmente em tempos de desconexão emocional.

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